Há algum tempo, um sujeito aloprado
tem insistido numa história que parecia ser absurda. Digo parecia, pois o
número de pessoas que têm parado para ouvir e até mesmo crer piamente na
historia tem aumentado a cada dia de modo assustador. Trata-se do sujeito que
diz ter visto uma vaca sendo carregada por urubus na cidade de Santos Dumont.
Muita gente se manifestou contra
o fato e a favor de uma internação do bendito homem da vaca voadora. Mas a
popularidade da história e até mesmo o apoio que tem recebido impediram os que
queriam tomar uma atitude para acabar com aquela coisa de vaca voando. E o causo,
verdadeiro ou não, da vaca foi ganhando mais vida.
O entusiasmo com o qual o tal
indivíduo insistia na história e o seu modo de contar o fato a todos que encontrava
pelo caminho estava fazendo com que adquirisse numerosos adeptos desejosos de
também verem a famigerada vaca voadora. Inclusive, encontraram outro dia em sua
casa uma carta na qual ele dá a entender que a vaca tem evoluído de fase,
subentendendo que a vaca voadora lhe aparece com certa regularidade.
“Algumas histórias vêm e vão
embora tão tempranamente que podem não restar se quer recordações. Outras, no
entanto, são capazes de permanecer e transformar vidas. Assim é a história da
vaca que voava pela cidadezinha de Santos Dumont. A história da vaca que vinha
certa feita voando, melhor, sendo carregada pelos urubus tem ganhado espaço e
vida própria nos meios nos quais ela tem sido apresentada.
Após longos anos de insistência
sobre a veracidade da existência da vaca voadora, a natureza parece ter ouvido
com presteza e admiração o caso da vaca e por isso mesmo deu a ela um auxílio.
No primeiro momento em que o fenômeno da vaca se manifestou, percebe-se ali uma
questão de mutualismo entre seres vivos, entre vaca e urubus.
Não se tem explicação lógica para
a próxima notícia, não se tem ciência capaz de analisar tal acontecimento. Mas
se tem uma grande e feliz notícia a ser dada: a vaca que voava por ajuda dos
urubus obteve da mãe natureza formidável presente.
Talvez do plano do qual eu
noticiando se torne bastante tranqüilo a notícia: que a vaca voadora se
manifestou mais uma vez neste ano e de modo muito mais surpreendente: a vaca
voava não mais por ajuda de urubus, e sim por suas próprias asas. Ela parece
ter adquirido asas semelhantes as dos urubus, porém mais resistentes e longas.
A natureza parece, ainda que isso seja, talvez, ilógico, orvalhado sobre as
costas da nossa querida e amada vaca, possibilitando assim que se brotasse as
tão fortalecidas, capazes de leva-la tão longe...”
Se vaca voa, não sabemos. A certeza que tínhamos quanto a
impossibilidade do fato se desfez pela insistência e capacidade de contar com
tanto entusiasmo, semelhante à de quem de fato viu um milagre. Se é louco,
sonhador, sujeito delirante, não sabemos. Mas sabemos que hoje muitos já se
deixaram se convencer e até mesmo passaram a crer que a vaca é o sinal
prometido, mandado do céu.