sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Vaca voa? (Final, isto é, se ela parar de surgir misteriosamente do céu e com suas mutações)

Sei como é difícil os homens entenderem certas coisas. Seres humanos adultos parecem serem quase todos cegos. Recordo-me do homem que desenha uma cobra que engoliu um elefante e todos os adultos só enxergam um chapéu, no Pequeno príncipe. Quando um adulto vê o mundo com um olhar de criança todos o julgam louco. Aí se descobre que dizer que nós devemos ser como as crianças para entrar no reino dos céus passa a ser conversa fiada para esses adultos.

Não é à toa que estou dizendo isso. É porque do mesmo jeito que só vê estrela cadente quem está apaixonado, só pode ver vaca voando quem é como uma criança. Quem garante que o sinal que Deus prometeu mandar do céu num seria uma vaca? E ele esconderia isso dos sábios e entendidos. Somente a simplicidade das crianças seria capaz de fazer visível esses sinais.

Sei que o que venho contando sobre a vaca voadora que constantemente vejo quando estou na cidade de Santos Dumont parece muito fictícia, fantástica de mais pra ser verdade. Mas por que a realidade num pode ser um pouco menos seca? A reação quando contei pela primeira vez o fato, há quase dez anos, foi de pouca crença. Apenas os mais simples foram capazes de ouvir sem se surpreenderem ou duvidarem.

Joaquim de Fiori também não foi compreendido quando viu os sinais na historia. Mas a vaca que me apareceu sendo carregada por urubus, depois de anos reapareceu a mim com suas próprias asas pretas e longas. Mas até então eu não havia percebido o quando o sinal era histórico e se dava no decorrer do tempo de modos diferente e evolutivo.

Mas quando eu retornei à cidade, em um prazo menor de tempo, eu revi a vaca black alada e para minha surpresa ela estava sendo guiada por um homem. Quando mirei melhor para ver quem era o homem, percebi pelo chapéu e o bigode que se tratava de Santos Dumont, o homem. Ele havia feito da vaca o seu 14 bis.


Muitos irão me comparar, talvez, com o Barão de Munchausen, e não me sinto incomodado por isso. A gente só entende a possibilidade quando ela acontece. Mas as conseqüências desta terceira fase da vaca voadora compromete toda a historia da humanidade. Será mesmo que foi ele, Santos Dumont, que criou o avião? Ou seria apenas uma adaptação da vaca voadora? 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

alegoria da culpa

O Medo acabara de chegar àquela cidade. Uma Menina, que amava seu Amigo, conheceu o Medo e passou a andar com ele. O Amigo da Menina de tempos em tempos voltava para ver se ela já tinha se libertado do Medo e voltado a ser ela mesma, mas acabava frustrando-se, pois a Menina se apegara tanto ao Medo que não conseguia se livrar dele. O Medo, sabendo que tinha chegado o dia do Amigo da Menina ir embora para sempre, resolveu sumir da vida da menina também, afinal perdera a graça aquele jogo. Antes de ir embora, o Medo deixou um bilhete com a ela e disse que lesse somente depois que ele desaparecesse lá no horizonte. Toda chorosa pelo fato do Medo ter deixado ela de lado assim tão de repente, a Menina resolveu procurar o seu antigo Amigo, e assim descobriu que ele também havia ido embora. Completamente desolada, a Menina lembrou-se do bilhete que o Medo lhe dera e leu: “Não chores pelo Amigo que partiu e nem pelo Medo que te deixa. Às três da tarde, vá até a beira da estrada e um novo amigo virá ao teu encontro”. A Menina, apreensiva, olhou no relógio, faltava algum tempo. Mesmo assim, resolveu esperar, desde então, por aquele que viria ao seu encontro preencher o lugar do Medo e do Amigo no seu coração. Devia ser alguém muito especial, pois para ser capaz de preencher um espaço tão vazio, pensava a Menina em sua solidão. Enquanto esperava, começou a sentir uma coisa estranha dentro de si, não sabia se era dor, se era náusea... Foi quando ela viu que alguém vinha ao longe. Quanto mais se aproximava, mais aquele afeto ruim lhe pegava por dentro. Aquele que vinha ao longe se achegara. Começou a conversar com a Menina e mostrar para ela como o Medo não lhe queria bem, veio só atrapalhar o amor que ela sentia pelo Amigo. Enquanto aquele que veio de longe lhe ajudava entender como o Medo agia na vida das pessoas, a Menina ia sentindo cada vez mais forte dentro do peito algo que às vezes chegava a doer. Foi quando se lembrou de perguntar àquele que acabara de chegar “Quem és tu?” e então teve a resposta: “Eu sou a Culpa e te prometo, ao contrário do teu Amigo e do Medo, que não te abandonarei jamais”.

Em setembro fui poeta das pedras.
Ainda que haja pedras que enfeitem o mundo,
não foram dessas das quais fui poeta.
Mas a dor de setembro é a dor da mulher que dá a luz
é aquela que quando passa deixa o sentido.
E quando setembro passar voltarei a ser poeta de gente
não de pedras; 
e poderei reconciliar a paz e a saudade

domingo, 22 de setembro de 2013

O recuo do a-mar

Os amores nascidos ante o mar
morrem na praia.
Na praia não, porque em Minas não há praia.
Morrem desolados em montanhas,
estradas de terra, à beira de algum lago barrento.
Porque os amores nascidos no mar foram movidos por ele
são incapazes de nadar.
E quando se afastam do mar,
nas terras firmes de Minas,
eles se perdem,
Porque os amores precisam do movimento do mar.
Mas quando voltar ao mar, direi a ele: “não quero amores vindo de ti, ó mar”
E o mar certamente perguntará o porquê.
E então direi: “Tu não os afogas em ti, 
mas os lanças não só às praias, mas para terras distantes, 
e os abandonas e eles se perdem”.

Diante disso, sem resposta e sem me perguntar “Quem és tu?” 
o mar recuará.


.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Dar-te


Queria dar-te como me dei ao mar
estar diante de ti como me me estendi diante dele.
Olhar nos olhos e ver-te além
assim como vi o além do mar.
Sem dizer palavras, revelar-me por inteiro.
Ser claro na minha confusão
E se perguntas o que é o mar,
o mar te pergunta "quem és tu?"
Porque estando diante dele,
vê-se o infinito de si.
Queria estar diante do mar,
assim como diante de ti.

tempos incertos


Em tempos de incertezas, são incertas as posturas.
Manipula-se tanto de lá quanto de cá.
Em tempos de grandes estrondos, os muros balançam.
E nem sempre o caminho do meio dá certo: acaba-se caindo para um lado.
Seja de lá ou de cá, é preciso muito cuidado: a vida é tão rara.
Foi entre muros que amores se perderam, amizades se desfizeram...
O sonho permaneceu?
Em tempos de incertezas, é melhor que se apóiem.
Que nos apoiemos todos, embora a cor do uniforme seja disforme.
Que em tempos assim, que a marcha seja de paz.
Porque com ódio a primavera não se faz!

Contra ou a favor?



Eu não sei.
Não sei se ainda sei pensar na vida como um tudo ou nada,
oito ou oitenta.
Já fui assim, seja na política ou o amor.
Mas o tempo,
Ah esse tempo...
cause em nós transformações,
além de nós mesmos
E a gente aprende a trilhar o caminho do meio,
lutando contra os excessos.
Mas em tempos vêm memórias
Saudade de quando mudar o mundo era possível,
ainda que num exército de poucos ou de um soldado só.
Saudade de quando se faria tudo por amor,
Tudo mesmo, até fugir para um lugar distante, sem levar nada.
Ainda continua possível,
enquanto houver vida e amor.
Mas o peso da velhice não nos deixa sentir-nos super-heróis
e nem irmos muito longe.
É preciso apoiar uns nos outros,
às vezes simplesmente para caminhar pela manhã.
Mas ainda há quem tenha aquela força e capacidade de se inflamar...
Que saiam, pois, nas ruas, mas não esqueçam de nós.
Que nos levem juntos, aos ombros,
e em momentos incertos, em nossa fraqueza, saibamos dizer:
“não vamos por aqui, mas por ali.”
Ser a favor ou contra?
Se ser a favor é apoiar tudo, sou contra.
Se ser contra é ser contra tudo, sou a favor.
Luta por dignidade não é movida por ódio
Nem por igualdade pode ser feita com desrespeito.
Ás vezes a favor, às vezes contra:
“vamos de mãos dadas, não nos afastemos muito”.

protesto

Não sejamos contra o povo, contra nós mesmos
É preciso ir, protestar...
Mas cada tempo tem suas ideias, seus moldes.
Peça moderna em máquina velha não se aplica
Nem soluções tão antigas em tempos tão de agora.
É preciso sair e protestar,
E isso pode ser não sair e calar:
Para pensar.
Pensar modos novos para moldes recentes,
Afinal protestar, em dias de hoje,
Não é meramente ir para a rua e gritar, talvez volte a ser!
Houve um tempo em que gritar já era o bastante,
Já era grande ofensiva.
E a resposta devolvia o grito: com pancadas e murros e tiros.
Mas em tempos de liberdade
Há mais que gritar,
Há coisas mais legais e efetivas
Silenciosas e justas: fatais no denunciar
Mas há quem se apegue ao grito e se esqueça o porquê daquilo.
Que se apegue a um tempo do qual só se tem as notícias
Porque ir a rua e gritar por gritar
Pode custar bem caro, bem mais que centavos.
Porque insistir em métodos velhos em tempos modernos
Pode levar ao retrocesso
Ressuscitando aos berros cassetetes e murros, pancadas e tiros

domingo, 24 de março de 2013

Algumas pessoas não sabem deixar de serem profundas.
Aprofundam tudo: o tempo, o mar, a vida.
Estão sempre submersas ás inconstâncias do existir.
E na madrugada de quem espera,
vem o medo de que, nas profundezas, elas des-existam.
Des-existam de serem cortadas diariamente, bem no peito, pelo tempo.
Porque, na atemporalidade do coração, há aqueles que se desesperam.
Na inconstância do amar, há sempre aqueles que se perdem.
Lançados, se lançam nas profundezas da alma
Porque é próprio de algumas pessoas serem profundas.