Há coisas que só o amor comunica, somente quem ama pode
compreender, porque há coisas na vida que só se pode entender se não se tenta
explicar. Explicar o mundo, quem pode? Quem pode se dizer sabido sobre todos os
pontos de nossa existência? Quem pode explicar o encontro de dois mundos? Não
se explica, vivencia-se. E viver se dá com a vida, e quem vive é o coração.
Outro dia, encontrei uma menina, e eu sou menino, já na hora
de virar homem. Eu sabia bem do meu mundo, dos meus significados e
significantes, de meus traumas e desejos mais íntimos e profundos. De repente,
vi o meu mundo diante dela; ela, um mundo que não se cala, que até mesmo em
silêncio, questiona.
Aos poucos, meu mundo foi se aproximando do dela, e o que
parecia tão estranho, o que parecia ser de outro mundo, começou a fazer parte
do meu. Primeiro um olhar, depois um perdão, por fim um sorriso. Às vezes o
sorriso pode significar que tudo anda bem, mas também pode ser apenas uma vida
inquieta que não deseja colocar nos ombros dos outros a dor que pesa nos seus.
Um olhar, um sorriso, um encontro, mesmo sem ter sido marcado.
Quem pode explicar o encontro? Esse fenômeno de profundo
mistério, que reivindica sentido para a vida. Quem o explica, com certeza não o
vive. O encontro não é próprio de quem se acha, mas de quem se procura; é
próprio de quem tem dúvidas, e não certezas. O encontro pode se dar no abraço,
ou no desejo dos braços que ainda não puderam se dar.
Eu mirei, em seus olhos; ela enxergou meu coração. Senti seu
cheiro, ela teve a certeza de não ser ilusão. A certeza, não aquelas dos que
pensam já terem visto tudo e se fecham às surpresas da vida, mas a certeza que
só o coração pode oferecer e que a razão jamais poderá explicar. A certeza que
é incerteza para qualquer explicação.
Há coisas na vida que não se pode explicar, coisas secretas,
coisas de coração para coração. Quem pode explicar as coisas cardiais não
poderá sentir aquilo que os olhos revelam da alma. Porque há coisas que só
mesmo de coração.
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