sábado, 11 de março de 2017

Fevereiro


Preciso confessar que sempre tive um caso com os meses. Por exemplo, março é o mês que nasci, abril é o aniversário de meu tio-pai, maio me recorda Nossa Senhora, junho foi quando meu pai morreu e até hoje esse mês me faz crescer... Julho é férias pelas quais anseia todo estudante, Agosto é o mês das vocações. Setembro é um caso sério: metade de minha família mais próxima nasceu nesse mês e ao mesmo tempo foi sempre um mês muito difícil. Outubro é das crianças, como eu gostava! Novembro, novembro, sempre salva meu ano, minha vida. Dezembro, advento, esperança. E sempre o desejo de um amor que durasse de janeiro a janeiro.
Sei que poderia dizer muito mais de cada mês, porque minha relação com eles é sempre muito mais confusa e rica. Mas nesse momento não são o mais importe. Sei também que deixei de falar de um que sempre me incomodava. Fevereiro. Um mês tão indiferente, de preguiça de recomeçar, de ressaca do carnaval, das festas de fim de ano. Fevereiro. Poderia vir algo de bom de ti, ó fevereiro?
E foi assim que uma menina, que hoje faz parte de mim, participa de mim e que eu desejo participar dela surgiu. Surgiu como uma surpresa cadente, uma menina misteriosa, uma mulher que vai se fazendo. O feminino em minha vida é como um perfume suave depois de um dia pesado de trabalho, depois de deixar o banho tirar os odores. O feminino é noite que me inspira e suspira, que me faz lembrar de ser poeta. E a noite que me gera e me permite amar.
Nesse ano, fevereiro foi recomeço. Recomeço em tudo, recomeço sem preguiça, recomeço cheio de ternura e silêncio. Às vezes o amor é gerado sem palavras, repousando no doce mistério que é silencio de Deus. De repente, como o que importa aqui são os meses, não falarei do feminino. Mas de fevereiro que veio em cheiro, com sabor e cheiro, com hora de chegada e de despedida: começava na praça da liberdade, depois de um tempo bem antes, e terminava na descida de um morro cujo nome do bairro não me recordo. Fevereiro me fazia imaginar, sonhar, querer arriscar. Fevereiro pareceu querer me fazer ser mais forte, não render ao medo e confiar que março seria um presente para o ano todo, para o curso todo, a vida...
Minha história com os meses parece continuar... complexa e cheia de mistérios. Janeiro continua especial, novembro, junho... Mas nesse ano, foi fevereiro que forneceu matéria para todos os outros. Fevereiro tão estranho, fevereiro tão morto, tão cansativo e que de repente me fez novo. Meu sonho agora não é que a vida toda seja fevereiro, mas que o perfume, a ternura e o olhar de fevereiro perdure pelo ano e, se possível, enquanto ainda for capaz de ter um coração pulsante. 




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