quinta-feira, 14 de março de 2019

coisa com coisa

Voltar a escrever é como se reinventar, é como, desde o início, fazer tudo de novo.
Na verdade, na vida, é como se nada fora escrito, ou se sempre fosse tempo de rescrever.
O amor com suas tantas urgências de última hora, sempre nos convencendo que basta um chá e tudo se resolve.
Mas há na vida coisas que não se pode reescrever com chá.
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De uns tempos para cá, meu coração começou a ficar verde.
Às vezes, penso ser por causa da idade que, a cada semana, avança um bocado.
Às vezes penso ser o contrário, que por mais velho que eu me torne, nunca amadureço.
Seja o que for, é assim que as coisas têm ficado por aqui, verde.
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Pode ser que nos habituemos às salas.
Ao menos elas se parecem em todo canto, não há muito o que modificar.
Por vezes, basta uma mesa simples para nos proteger de toda realidade que existe lá fora: do lado de cá, meu trabalho e do lado de lá, o problema dos outros.
Assim, tudo fica mais fácil, tudo bem separadinho, onde o arroz é arroz e o feijão é feijão.
O problema é que o encontro dos rios não dura para sempre
Ainda que caminhem um bom pedaço de chão lado a lado, logo as coisas começam a se misturarem, ainda que no começo seja só por debaixo.
Pode ser que na mesa também seja assim, tudo permaneça separadinho por mais tempo por cima, mas o que se passa pode debaixo dela revela que nem tudo respeita o lado de cá e o lado de lá da vida.
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É preciso deixar claro que muitas vezes as mãos escrevem também o que querem, assim como faz a cabeça quando pensa.
É por isso que se pode ir escrevendo, separando os assuntos por traços, sem se importar muito se uma coisa toca a outra, ou mesmo se o que está escrito numa faz sentido com ela mesma.
Escrever pode ser apenas um gesto ou um ato.  Despreocupado.
É liberdade escrever sem a obrigação de dizer.
Basta estar aí, já é dizer que voltou.





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