Na verdade, na vida, é como se nada fora escrito, ou se
sempre fosse tempo de rescrever.
O amor com suas tantas urgências de última hora, sempre nos
convencendo que basta um chá e tudo se resolve.
Mas há na vida coisas que não se pode reescrever com chá.
-------------------------------------------------------------
De uns tempos para cá, meu coração começou a ficar verde.
Às vezes, penso ser por causa da idade que, a cada semana, avança um bocado.
Às vezes penso ser o contrário, que por mais velho que eu me
torne, nunca amadureço.
Seja o que for, é assim que as coisas têm ficado por aqui,
verde.
------------------------------------------------------------------
Pode ser que nos habituemos às salas.
Ao menos elas se parecem em todo canto, não há muito o que
modificar.
Por vezes, basta uma mesa simples para nos proteger de toda
realidade que existe lá fora: do lado de cá, meu trabalho e do lado de lá, o
problema dos outros.
Assim, tudo fica mais fácil, tudo bem separadinho, onde o
arroz é arroz e o feijão é feijão.
O problema é que o encontro dos rios não dura para sempre
Ainda que caminhem um bom pedaço de chão lado a lado, logo as coisas começam a
se misturarem, ainda que no começo seja só por debaixo.
Pode ser que na mesa também seja assim, tudo permaneça
separadinho por mais tempo por cima, mas o que se passa pode debaixo dela
revela que nem tudo respeita o lado de cá e o lado de lá da vida.
-----------------------------------------------------------------
É preciso deixar claro que muitas vezes as mãos escrevem
também o que querem, assim como faz a cabeça quando pensa.
É por isso que se pode ir escrevendo, separando os assuntos por
traços, sem se importar muito se uma coisa toca a outra, ou mesmo se o que está
escrito numa faz sentido com ela mesma.
Escrever pode ser apenas um gesto ou um ato. Despreocupado.
É liberdade escrever sem a obrigação de dizer.
Basta estar
aí, já é dizer que voltou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário