domingo, 3 de julho de 2011

vaca voa? (primeira parte)


Nesse mundo, tantas histórias e estórias existem. Mas aquele ali? Nunca se viu alguém tão criativo e mentiroso assim. Todo dia ele vem com um acontecimento fantástico, e conta tão seriamente que parece ser verdade; até a gente que o conhece fica inseguro de desmenti-lo. Outro dia ele estava na montanha fazendo caminhada e disse ter visto uma nuvem que pairou sobre ele... Deve ter se sentido como um Cristo prestes a se transfigurar.

O dia que ele não tem uma história nova deixa de ser dia. Mesmo quando os ouvintes não dão crédito ao seu relato, ele não deixa de se divertir. Mas quando acha um que o olhe fixamente, cheio de fé e atenção... Bem, ele faz a festa. Quanto mais corda se dá, mais ele abusa e estende seus relatos.

Já lhe deram a idéia de escrever suas historias para a posterioridade. Mas ele, homem muito simples, diz sempre que isso não é para ele não. Ao menos um bom senso de si ele às vezes tem. E apesar de não escrever, cada dia ele apronta uma pior. Alguns juram que ele está louco, e outros juram terem visto os mesmos fatos que nosso “Sr. Imaginação”.

As pessoas adoram ouvirem coisas absurdas, algumas  porque acreditam de fato e outras ouvem apenas porque sabem que a vida é dura e se é preciso sorrir às vezes com algumas figuras cheias de imaginação para criar piadas e contos. Quanto mais arriscam defender seus casos, mais engraçado fica, mais o povo ri.

Hoje ele veio com uma daquelas que quase, de fato, o colocaram em uma clinica de tratamento psiquiátrico. Segundo ele, vinha andando sozinho pela BR. Antes de chegar à ponte, resolveu descer por uma trilha que alguém fez no barranco. Bem, ao chegar à metade da escada, ele viu cruzar o céu uma vaca. Isso aí, vaca agora voa, e ai de quem duvidar.

Automaticamente, alguns levantaram e disseram que dessa vez ele estava passando dos limites. Alguém ainda disse: “Chamem uma ambulância gente, é perigoso ficar perto dele. Pode ser contagioso”. Mas ele pediu a chance de explicar. Então lhe deram a oportunidade de se defender:

“Gente, é claro que vaca não voa. Ao menos sozinha ela não pode voar. O que ocorreu foi que em cada pata havia mais ou menos uns dez urubus que a carregavam pelo ar; e ela não estava tão gorda assim. Eu até pensei que a vaca estivesse morta, mas não. Pelo contrário: ela estava tão viva que ainda retribuía o favor que os urubus prestavam. Em troca do transporte gratuito, ela amamentava os filhotinhos de urubus que voavam juntos, pregados em suas tetas...”

Outro disse: “Chega. Nunca vi tanta asneira. Pior não é ele, e sim a gente que perde tempo ouvindo”.

Mais um ainda: “É nisso que dá dar chance a um louco para que se defenda”.
Como não puderam prendê-lo em um hospício, muita gente teve de criar paciência para continuar ouvindo os casos do homem. Mas um bom número de pessoa gostava de ouvir as histórias e estórias do homem para o qual não havia limites entre o real e o imaginário. Para ele, sonhar e viver dava igual, e besta era quem ficasse questionando. 

E se vaca voa? Uai! Ao menos as que ele via voavam.


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