segunda-feira, 26 de junho de 2017

uma distinta Bahia

Era Bahia aquele dia. Assim como muito, no entanto em terra estranha. Terra alheia. Penetrar assim, em casas tão distintas, acaba por provocar no coração humano certas sensações igualmente instigantes; que inquietam o coração. Estar ali, em Bahia nova, Bahia tão antiga, era como visitar o passado nesse presente tão definitivo e nobre. E eu o visitei. Com a coragem não tão usual, mas com uma capacidade de me deixar acolher e fazer parte daquele corpo novo, que poucas vezes fui capaz de deixar. Até mesmo, e isso não é novidade para quem já esteve por lá, só a Bahia pode fazer conosco certas coisas pouco usuais.
É claro, e isso não diminui em nada aquele gesto, que o corpo da gente estranha força nova que nele se encaixa e sacode. O corpo, tão sensível, o corpo sente. Assim como deve ter sido o corpo de quem se deixa nascer e depois volta ao colo da mãe, porém pelo lado de fora. É assim, estando no presente, voltar à Bahia.
Estar à Bahia é como estar a bailar, deixar-se ir, de repente se ver tocado por completo. Não é qualquer um que nos toca o corpo; não é força qualquer que tem acesso ao coração alheio. Nem todo sol e mar é Bahia, nem todo sertão é tão grande. Grande mesmo é estar ali, sem medo e pleno. Porque na coragem que é estar em Bahia, entende-se um modo novo de ser pura ousadia. Ousadia que pode, e ousadia que dá vergonha. É preciso saber quando o corpo quer ser parte, ou quer ser só.
E a Bahia está ali; sempre esteve. Ao contrário de mim, que só por passagem deixei-me tocar, assim como se toca um pássaro viajante, que beija e se vai. Mas ao ir-se da Bahia, ninguém se pode ir o mesmo. Mesmo quando tudo parece ter se chegado ao fim. O fim da vida, na Bahia, é apenas estágio de passagem, passagem do pássaro viajante. A vida passar, mas ela, a Bahia, estará sempre por ali, esperando que nosso corpo se refaça e renasça para dela se nitrir uma vez mais. No eterno chegar e partir que só o navegador das bahias poderia saber.
Mas assim como quem toca e se deixa tocar à distância, de repente Bahia é sonho que se passa, sonho que se disfarça em desejos molhados de água de coco. De repente, Bahia, para quem simplesmente agora olha daqui de Minas, é simplesmente triste lamúria e saudade do tempo em que de fato se podia deixar encostar e sentir aquele gosto perpétuo de mar, e deixar de amar.
E a Bahia se perde. Ou melhor se dizendo, perde-se da Bahia que soube acolher num viajar distante em que já não se reconhece. Bahia estranha, estranha a gente que foge dela. Em palavras soltas e conexão fraca, o presente se faz insustentável frente ao futuro. E o futuro passa, assim como a Bahia passou em nós, apesar de estar sempre ali, prestes, a cada momento, a nos conectar ao distante. Mas há coisas que a distância não pode explicar. Há coisas que à distância não se explica. Não se explica a Bahia que, alheia, acolhia e simplesmente era uma dia, ainda sem ser presente. 

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